Para Consumidor

Meu motor parou de funcionar, e agora? Devo recondicionar ou comprar um motor novo? Se decidir pelo reparo, como posso escolher uma boa empresa para realizar o serviço? E a compra de um motor de “segunda mão”, vale a pena? Estas e outras questões serão respondidas por meio deste guia, de forma clara e prática.

Primeiro, vamos falar um pouco do setor de reparo de motores elétricos no país. As pesquisas de identificação realizadas pela PUC-Rio em 2019 [1] indicaram um setor majoritariamente constituído de pequenas empresas, cerca de 85%, a maioria com deficiência de equipe treinada e de equipamentos adequados. 67% dos funcionários das empresas recondicionadoras possuem apenas o ensino médio, e destes, presume-se que 50% não apresenta ensino técnico. Esse fato impõe uma demanda por capacitação e informação, já que o serviço de recondicionamento exige mão de obra qualificada para a realização de um trabalho de qualidade e que garanta a eficiência do motor. No entanto, este setor é importante em termos energéticos, o mercado de venda de motores recondicionados no Brasil é volumoso com cerca de 34% dos motores vendidos anualmente. As perdas associadas a um reparo inadequado foram estimadas [1] em 8,4TWh em 2019. Essa perda equivale ao consumo de 4,47 milhões de residências brasileiras, considerando o consumo mensal médio de 157 kWh/mês.

Ciente desta importância, o Ministério de Minas e Energia criou o Grupo Técnico de Motores Recondicionados em 2017, com o objetivo de estabelecer um conjunto de ações para promover a eficiência energética nesse segmento. O GT elencou 6 áreas de atuação: Regulamentação; Normalização; Caracterização do Setor; Conscientização do Consumidor; Qualificação/Treinamento; e Representatividade Setorial.

Na área de regulamentação se destaca a Portaria Interministerial MME/MCT/MDIC nº1 de 29 de junho de 2017, que estabeleceu como rendimentos mínimos dos motores de indução trifásicos a serem comercializados no Brasil, os da categoria IR3, também chamados de premium. Esta portaria também estendeu estes rendimentos mínimos aos motores recondicionados que são comercializados. Não estando incluídos os motores que são reparados e voltam para as instalações de seus proprietários. Isto é estes rendimentos mínimos só valem para os motores recondicionados vendidos e não para aqueles que se submeteram a um serviço de reparo. 

Outra área que merece atenção é conscientização do usuário, no estudo da PUC-Rio de 2019, foi realizada também uma pesquisa de campo com consumidores comerciais e industriais com vistas a subsidiar a elaboração de uma cartilha de orientação aos usuários de motores recondicionados. Como resultado da pesquisa, constatou-se que os usuários, em sua maioria, adotam o recondicionamento por conta do custo inferior do motor recondicionado, quando comparado com um novo. Ficou evidente nas análises que estes consumidores não calculam o impacto no consumo relativo à perda do rendimento do motor pós-recondicionamento. Em adição, a grande maioria, não faz gestão do histórico do motor (ausência do registro do número de vezes que motor queimou ou até se sofreu alguma manutenção). A maior parte destes consumidores não se preocupa com a qualidade das empresas que prestam o serviço de recondicionamento.

Para lidar com esta questão, o GT produziu a “Cartilha de Orientação para o Usuário de Motores Recondicionados”, [2] realização da PUC-Rio, em parceria com a Internacional Cooper Association – ICA, e realizou workshops para alertar consumidores e recondicionadores da importância da capacitação e do fornecimento de um serviço de qualidade, além de atualizá-los sobre as novas normas e portarias instauradas. Estes workshops foram realizados em parceria com a GIZ. Entre os anos de 2018 e 2019 foram realizados quatro workshops no Rio de Janeiro, Indaiatuba -SP, Salvador e Belo Horizonte. Em 2020 e 2021, devido a pandemia da Covid-19, os workshops foram suspensos.

O GT-Motores Recondicionados identificou que a qualificação atualmente existente se restringe às redes de assistências técnicas dos fabricantes, que treinam e capacitam estas empresas. Foi constatada a necessidade de se reestabelecer um programa de qualificação de profissionais recondicionadores de motores para as equipes das empresas que não fazem parte destas redes (cerca de 67%). Nesse sentido, o SENAI, como o representante educacional que forma profissionais técnicos para a área industrial, se prontificou a aumentar a oferta do curso de formação desses profissionais, que estava quase extinta, renovando-a com as demandas levantadas pelo GT.

Em dezembro de 2018, com o apoio do Projeto Sistemas de Energia do Futuro da GIZ e MME foi promovida uma oficina entre fabricantes de motores, membros do GT-Motores Recondicionais e o corpo técnico do SENAI para reformular a ementa do novo curso de recondicionamento de motores, que é atualmente ofertado em nível profissionalizante pelo SENAI. Esta oficina se realizou no SENAI de Indaiatuba. A primeira turma começou a ser oferecida pelo SENAI Indaiatuba-SP, em agosto de 2021, espera- se avaliar o formato do curso e os materiais didáticos criados, bem como a sua aplicabilidade para os outros SENAIs distribuídos pelo território nacional.

Este guia digital é mais uma iniciativa da Parceria MME e GIZ, no âmbito do Projeto Sistemas de Energia do Futuro apoiada pelo GT-Motores Recondicionados, com o intuito de aumentar a qualidade do serviço de recondicionamento no país, através da disseminação da norma NBR 16.929/2021, bem como fomentar uma maior conscientização do consumidor. Por meio deste guia, o consumidor entenderá como decidir entre realizar o recondicionar do seu motor ou comprar um motor novo, além de ter orientações para a escolha de um reparador com execute serviços de boa qualidade.

[1] Souza, R. C. Pesquisa Mercadológica sobre Motores Recondicionados: Uma proposta para o órgão regulador, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2019.

[2] Souza, R. C. Cartilha de Orientação para o Usuário de Motores Recondicionados. Rio de Janeiro, 2019.

[3] Souza, R. C. Pesquisa Mercadológica sobre Motores Recondicionados: Uma proposta para o órgão regulador, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2013.

Calculadora de Eficiência Energética

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